O agronegócio brasileiro evoluiu de maneira bastante acelerada nos últimos anos. Se voltarmos ao passado, o País era apenas importador de alimentos. Hoje, o Brasil é o maior fornecedor de açúcar, suco de laranja e café do mundo, segundo estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
O relatório indica que a população global será de 9,7 bilhões de pessoas em 2050, 37% maior que a atual. Para prover alimentos para todos, o estudo prevê que a produção mundial de alimentos deverá crescer 80%. O diretor executivo da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Luiz Cornacchioni, acredita que é um grande desafio para o setor: desses 80%, metade é atribuída ao agronegócio; será um desafio monumental.
Para o professor da Business School São Paulo (BSP) Eduardo Alves Cunha, o agronegócio ganhou mais holofote devido a dois fatores: inovação e competitividade. Um aliado ao outro. Não se pensa mais em produção visando subsistência, mas sim em lucro como qualquer outro empreendimento”, disse. Segundo Cornacchioni, “internacionalmente, o Brasil ganhou um ‘selo’ de relevância de produção de alimentos.
O novo salto
Há 12 anos, Edson Luiz Ignácio seguiu seu sonho e vive uma vida muito diferente daquela com a qual estava acostumado. Ele trabalhou a vida toda na área bancária, mas sempre teve vontade de ir para o setor de agronegócio. “Doze anos atrás, resolvi fazer o que eu sempre quis”, disse. No início, Edson Ignácio investiu em plantação laranja e, depois, de cereais. Hoje, aos 62 anos, é dono da Companhia Agrícola São Luís, com fazendas na região sul do Estado de São Paulo.
Para o Ignácio, os 4 maiores obstáculos de um empreendedor do setor nos dias atuais são: a alta tecnologia de ponta necessária, elevado capital intensivo, influência dos efeitos climáticos e gestão.
Segundo o estudo da OCDE e FAO, a produção agrícola no Brasil mais do que dobrou e a produção pecuária praticamente triplicou em volume, na comparação com os índices de 1990. Como empresas do setor como a Companhia Agrícola São Luís podem dar um novo salto de evolução? Segundo especialistas, é fundamental refletir sobre as 5 questões:
1. Sustentabilidade
De acordo com o estudo da OCDE e FAO, os avanços na produção agrícola brasileira podem ser alcançados de forma sustentável. Existe escopo para maior desenvolvimento de práticas de produção mais sustentáveis. Os benefícios do crescimento sustentável na agricultura do Brasil são vastos, diz o relatório.
Para Cornacchioni, a nova onda para dar um novo salto de evolução será fazer o agronegócio de maneira mais sustentável. Temos um espaço para crescer, mas a forma precisa ser mais sustentável. Há áreas de grande produção que permitem avançar nessa questão.
2. Integração
Cunha entende que a integração lavoura-pecuária será cada vez mais comum: hoje, a integração lavoura-pecuária ainda é restrita aos grandes grupos, no entanto, é fundamental a busca por uma visão de rentabilidade da propriedade como um todo.
É importante integrar outras culturas do ponto de vista do uso do solo e recursos hídricos, por exemplo, falou Cornacchioni.
3. Inovação
Segundo Cunha, para dar um novo salto, o agronegócio brasileiro precisa continuar evoluindo nos avanços genéticos. Melhoria da qualidade, rastreabilidade e produtividade. Além disso, práticas de agricultura de precisão como aplicação de corretores e defensivos em micro dosagens, sempre quando houver indicação. Cornacchioni concorda que a inovação em pesquisa em material proporciona um ganho de produtividade com semente mais adaptadas às condições climáticas e de solo. Além de acertar a data de plantio e colheita, hoje também temos inovação com máquinas de alta tecnologia.
4. Conhecimento
Para Cunha, muita vezes, a falta de conhecimento impede que empreendedores enxerguem possibilidades no agronegócio. “Muitos ainda buscam franquias e negócios urbanos, mas as barreiras de entrada do agronegócio ainda são baixas. Temos preços de terra extremamente baratos e boas linhas de financiamento para implantação e custeio”. Por outro lado, de acordo com ele, uma parcela de empreendedores, em parceria com a tecnologia, está ajudando a mudar esse cenário: startups que vão desde a criação de um ERP (Planejamento de recurso corporativo) para pequenas e médias propriedades, uso de drones para visualizar florestas plantadas e testes químicos sofisticados para detecção de pragas com antecedência.
5. Acesso
Na opinião de Cornacchioni, ter o domínio da tecnologia de produção tropical é uma vantagem competitiva grande do agronegócio brasileiro, mas ainda há um lado de atenção. Ainda temos muito a avançar: por exemplo, a carência de políticas públicas para produção do agronegócio dificulta o acesso ao mercado; e centros urbanos precisam conhecer mais sobre o setor, pois quanto mais consciência, menos desperdício.